quinta-feira, 7 de março de 2013

Lee Min-kyong é uma garota coreana de 12 anos que, apesar de ser uma ótima dançarina de balé, possui uma auto-estima baixa. A solução? Cirurgia plástica para ocidentalizar os olhos, sugerida pela sua própria mãe. “Estou animada. Depois da operação, meus olhos vão parecer maiores, acho que vou ficar mais bonita do que eu sou hoje”, acredita a menina. Sua mãe, Hyu Jang-hee, afirma que a ideia partiu dela mesma, e não de sua filha. “Estou mandando ela fazer isso, porque eu acho que vai ajudá-la. Essa é uma sociedade em que você tem que ser bonito para chegar a algum lugar. Ela é minha única filha”. A definição de “bonita”, explica o cirurgião plástico Kim Byung-gun, não é o rosto-padrão asiático, mas algo mais próximo de um rosto caucasiano. Kim diz que sua clínica, uma das mais bem sucedidas em uma cidade apelidada de “capital de cirurgia plástica da Ásia”, realiza cem cirurgias por dia, que vão desde operações nas pálpebras, como o caso da menina bailarina, até intervenções para raspar o nariz e remodelar o contorno da face.
As cirurgias, já populares entre os coreanos, estão em alta entre os novos ricos chineses. Cerca de 30% de seus pacientes são estrangeiros e, desse grupo, 90% são chineses. “Os pacientes chineses e coreanos me dizem que eles querem ter rostos como os americanos. A ideia de beleza aqui é toda ocidentalizada. Os povos asiáticos querem deixar de ter os traços físicos que os caracterizam como tal”, explica ele. E a ideia da ocidentalização não para por aí. O cirurgião-dentista Hak Jung luta contra uma tendência bizarra: as mães coreanas pedem para que o músculo debaixo da língua, que se conecta ao fundo da boca, seja cirurgicamente cortado em seus filhos. A crença é que, dessa forma, as crianças coreanas consigam falar inglês com mais clareza. Pessoas da região do Pacífico da Ásia têm dificuldade em pronunciar o fonema “L”, diz Jung, mas ele mesmo considera a cirurgia uma loucura, causada pelo espírito competitivo na Coreia.
“Nos últimos dez anos, tem havido essa histeria de aprender inglês precocemente. Daí, as mães recorrem às mais estranhas formas de deixarem seus filhos com uma melhor pronúncia”, explica Jung. O comentarista americano de origem asiática, Martin Wong, vê estas operações de ocidentalização como algo muito profundo do que simples procedimentos cirúrgicos. Para ele, trata-se de uma forma de “imperialismo cultural”. 

“Eles estão fazendo uma declaração sobre sua própria raça, sobre de onde eles vêm e quem eles são”, declara Wong. “Eles não estão fazendo isso de propósito. Não estão dizendo que eles pensam que são inferiores ou mais feios que os ocidentais, mas essa é a mensagem que passam mesmo assim”. Mensagem ou não, para Min-kyong, a cirurgia de 20 minutos valeu a pena e o desconforto pós-cirúrgico não foi nada em relação à satisfação com seu novo rosto. E quando a menina de 12 anos de idade se vê dançando pelo espelho estúdio, ela não pensa em imperialismo cultural. Ela só vê uma menina bonita.


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