Em um texto intitulado “Algum dia vamos superar a ideia de que pele clara é melhor?”, uma jornalista do inglês The Guardian deu repercussão internacional à cantora Anitta, mas não exatamente pelo sucesso do Show das Poderosas. A autora da matéria usou a estrela como exemplo para uma crítica ao racismo na indústria pop.
A repórter Teresa Wiltz explicou que Anitta começou no funk carioca, cantando sobre as ruas e o que a autora chama de glamour gangsta. Mas, depois de um contrato com a Warner Music, a estrela adotou um estilo mais leve e consumível. Do funk, ela passou para um R&B mais “limpo”, e um visual de fácil consumo.
Hoje, Anitta exibe nariz menor, modificado após uma plástica, cabelos lisos e, conforme mostrado pela montagem do jornal inglês, pele mais clara. A pele mulata parece mais clara; melhor, aparentemente, para a audiência. Mas, em um país de maioria negra ou parda como o Brasil, a pele mais clara é realmente a mais popular?
O texto cita outros casos, como Michael Jackson e Lil’ Kim, para explicar que os artistas pop buscam características físicas que fogem dos padrões negros para fazer sucesso. Pele clara ainda é igual a poder e aceitação, e ambiguidade racial é a chave para o sucesso de estrelas negras.
Procurada pela reportagem do R7, a assessoria de Anitta negou qualquer tentativa da cantora de parecer mais branca, seja por edição de imagens, tratamentos estéticos ou maquiagem.
Mas os cabelos alisados e o nariz menor de Anitta vão além da especulação sobre as vontades da cantora.
O racismo no entretenimento
Jarid Arraes, educadora sexual, feminista e autora de um texto no veículo Blogueiras Negras citado no The Guardian, afirma que muitas mulheres se submetem a procedimentos estéticos porque desejam se encaixar em um padrão de beleza branco europeu. Nesse padrão, disseminado pela indústria do entretenimento e meios de comunicação, bonito é ter cabelos “domados” e pele clara.
— Nossa cultura exige que as mulheres se modifiquem cada vez mais: cabelos crespos são considerados ruins e por isso o alisamento é usado como uma suposta correção, e narizes mais largos são afinados para serem considerados mais bonitos.
Por isso, a questão do alisamento, segundo a educadora, é social, e não um caso isolado. Ele faz parte do preconceito racial.
— Há um imaginário popular que dá espaço para pessoas negras só até certo ponto, barrando o acesso a outros ambientes e expressões.
Jarid acredita que pessoas não-brancas poderiam ter mais reconhecimento na cultura pop.
— Essa é uma carência bastante generalizada.
Entretanto, Jarid faz uma ressalva. Acusar Anitta de ser uma mulher mulata que nega suas origens é um equívoco.
— Não é correto buscar dizer qual é a etnia da Anitta, porque ela é uma mulher miscigenada. Essa identidade só pode partir dela.
terça-feira, 10 de setembro de 2013
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